style="width: 100%;" data-filename="retriever">
Na lista de contatos do celular a identificação não é feita pelo nome, mas pela expressão "genitor" ou "genitora", seguida pelo nome do filho. A comunicação não é mais pessoal. Nem a antiga ligação telefônica é possível. Dependendo da maior ou menor urgência da mensagem, a opção fica entre o WhatsApp ou o e-mail. Em alguns casos, faz-se necessária a interlocução de terceiros. Essa é a realidade de milhares de casais que dissolveram sua união, mas necessitam manter contato em virtude desse relacionamento ter gerado filhos comuns.
Se o tradicional "até que a morte os separe" não faz mais sentido em relação à sociedade conjugal, inquestionavelmente continua a ser uma verdade pelo vínculo vitalício existente através dos filhos gerados.
Essa ligação sempre será retomada nos momentos significativos daqueles que foram gerados nessa união falida. Seja nos eventos escolares, nas formaturas, na doença, nos casamentos, e, especialmente, no nascimentos dos netos, onde o casal continua a ser documentalmente identificado, lado a lado, com a titulação de avós maternos ou paternos.
Tristemente se verifica a incapacidade da manutenção de um relacionamento saudável ou, pelo menos, de uma comunicação cordial entre muitos casais que se separam. Não importa a classe social ou o nível de escolaridade, quando o amor é tomado pelo ódio, a educação e a polidez são esquecidas.
A escritora francesa Françoise Chandernagor, no romance "A primeira esposa", descreve com perfeição àquela que tem sido a realidade de muitos divorciandos: "O divórcio? Uma guerra civil a que se entregam dois amadores: queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, machucadura por machucadura. Uma longa, interminável guerra civil em que tudo é derrota".
É preciso que os envolvidos superem o luto do final da relação, priorizem o bem estar dos seus filhos e, especialmente, o seu próprio bem estar. Não será a intervenção dos advogados, do juiz, dos psicólogos ou mediadores nomeados que trará a solução para o problema. A vitória será conseguida com seu próprio empenho. Cada um deve buscar vencer a si próprio. Superar o rancor, as lembranças ruins, o desejo de vingança, perdoar as mágoas, mesmo que profundas. Somente assim obterá a necessária paz de espírito e conquistará a própria liberdade.
O amor que não deu certo foi fruto de uma má escolha. Esse passado não será apagado jamais, pois está materializado através do fruto vivo desta união: o filho gerado, que é o que mais importa nas suas vidas.
Em tempos de radicalismo e ódio, a paz familiar deve ser buscada. O caminho é a retomada do diálogo efetivo e necessário. A boa comunicação é o melhor instrumento na conquista dessa harmonia necessária. Ainda que seja difícil, não é impossível. É um exercício de humildade e superação.
Como canta lindamente Marisa Monte: "Nós fizemos história, pra ficar na memória e nos acompanhar. Quero que você seja feliz, hei de ser feliz também".